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O Congresso Futurista - uma ótima distopia misturando animação e live action

  • Neusa Barbosa
  • 3 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

Diretor israelense de 'Valsa com Bashir' mistura animação e atores reais. Robin Wright é atriz que abre mão da própria imagem por dinheiro.

O diretor israelense Ari Folman costuma levar a animação a territórios inesperados. Como a política, com "Valsa com Bashir" (2008), um criativo semidocumentário que discutia a invasão israelense do Líbano, em 1982. "O congresso futurista" é seu mais recente trabalho.


Mistura animação e live action para não só adaptar o livro "O congresso futurológico" (1971), do polonês Stanislaw Lem (1921-2006), como para encenar uma corrosiva análise da máquina de entretenimento de Hollywood e nosso tempo obcecado pela celebridade.

A obra do inspirado Lem (autor também de "Solaris", que rendeu versões cinematográficas), é verdade, fornece um amplo ponto de partida, sendo precursora, em mais de duas décadas, de um conceito de realidade virtual reapropriado, em outra chave, pelo sucesso "Matrix" (1999), dos irmãos Andy e Lana Wachowski.


O filme começa em live action. Robin Wright (fazendo o próprio papel) é uma atriz de 44 anos, que teve sucesso na adolescência, mas depois enterrou sua carreira em escolhas erradas e crises emocionais.


Hoje, ela vive numa casa modesta, com os filhos Sarah (Sami Gayle) e Aaron (Kodi Smit McPhee) - este último, exigindo cuidados de saúde.


Robin está num impasse existencial, precisando de dinheiro, mas com a imagem queimada junto aos produtores. Seu agente, Al (Harvey Keitel), procura-a com uma proposta que, diz ele, será a última feita pelo estúdio que detém contrato com a atriz, o Miramount - qualquer semelhança com nomes reais de estúdios não será mera coincidência.


A proposta do produtor Jeff (Danny Huston) é que a atriz aceite ter sua imagem escaneada e estocada num chip, que passará a ser propriedade do estúdio e que poderá ser usada em todo e qualquer gênero de filme, sem que ela tenha controle sobre isso.


A atriz deverá, então, a troco de uma alta soma, assinar um contrato abrindo mão de usar a própria imagem por 20 anos. Robin hesita, mas afinal aceita, porque é alto o custo do tratamento do filho. Ela também não tem mais qualquer ilusão ou objetivo com a carreira. Vinte anos depois, quando sua versão digital já estrelou de ficções científicas a filmes de ação, é convidada a participar de um congresso da empresa, que agora se chama Miramount-Nagasaki.


Para participar desse congresso, todos os convidados devem ingerir uma ampola que os coloca num mundo virtual, em que todos se enxergam como animações. A partir daí, o filme se transforma num desenho animado.


A visão de futuro contida neste segmento é das mais sombrias. Na realidade, o mundo fora dali não é nada digno de ser contemplado. Toda possibilidade de utopia e felicidade é essa ilusão virtual, mantida quimicamente.


Alguns toques de humor surgem nas versões animadas de alguns personagens famosos, como um Tom Cruise de traços orientais e um Michael Jackson fazendo as vezes de garçom num restaurante de luxo.


De modo geral, "O congresso futurista" é bastante complexo. Ambicioso também. Não à toa, Robin Wright, uma das produtoras, está muito à vontade num papel que tem declarados pontos de contato com a própria biografia e lhe dá oportunidades extraordinárias de demonstrar a versatilidade de seu talento, nem sempre bem aproveitado ao longo de sua carreira.


No quesito visual, a animação é de uma riqueza e ousadia consistentes, embora lhe falte algum ritmo no cômputo geral do filme. ASSISTIR






 
 
 

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